Há pouco mais de um ano, eu li uma entrevista que a socióloga e pesquisadora Ana Maria Carneiro, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Unicamp, concedeu ao jornal O Globo do Rio de Janeiro, na qual afirmava que “as universidades precisam mudar”. Ela se referia especificamente à ampliação da diversidade discente trazida por ações afirmativas. Ana Maria Carneiro exemplifica o seu ponto de vista, no sentido da necessária e urgente mudança nas universidades, da seguinte forma:
“Na Unicamp, temos um exemplo interessante num programa voltado para alunos de escolas públicas de Campinas, o Profis. No início, alguns cursos tinham resistência em receber os alunos, achando que tinham uma formação fraca e iriam atrapalhar seu andamento. Mas justo em um dos mais concorridos, Medicina, ele se mostrou um sucesso, tanto que o número de vagas dobrou de cinco para dez. Isso porque esses alunos trouxeram uma diversidade que enriqueceu o curso, com os alunos contribuindo com novas perspectivas que são muito importantes na formação de um médico. Afinal, são pessoas que usaram e usam a rede pública de saúde, permitindo incorporar sua vivência na melhoria do curso.”
A palavra-chave no depoimento da pesquisadora da Unicamp é “diversidade”. Qualquer pessoa que se aventure a tentar encontrar boas soluções para problemas complexos, ou seja, problemas que não aceitam uma única solução, sabe que levar em consideração o ponto de vista de diferentes atores é um elemento crucial para se chegar aos melhores resultados.
Intuitivamente as pessoas já sabem disso, quando procuram um amigo que seja capaz de lhes oferecer opiniões duras, mas necessárias para tomar uma posição importante; ao formar um time de futebol evitando-se que todos tenham as mesmas habilidades (já pensou em um time com 11 goleiros?) ou, ainda, quando assistimos a cerimônias de abertura de Jogos Olímpicos e nos fascinamos com a singularidade de cada povo.
Engana-se quem pensa que a diversidade enfraquece. É justamente nela que reside a força que nos permite avançar.
Se a diversidade se mostra importante em situações rotineiras, imagine na construção de uma nação. Aliás, uma nação não é outra coisa senão a reunião dos cidadãos que habitam determinado território, mas sem excluir a possibilidade de expressão genuína das diferenças que os constituem. Quando um país (uma empresa, um bairro, uma família, um grupo de amigos…) menospreza a contribuição da diferença, está assinando consciente ou inconscientemente um pacto em torno da mediocridade.
O exemplo da Unicamp é claramente uma demonstração dos benefícios das ações afirmativas para todos: os diretamente beneficiados – alunos que por mérito conquistam as poucas vagas disponibilizadas – e aqueles que recebem o privilégio de conviver, aprender e se desenvolver em um ambiente heterogêneo.
Diversidade não se aprende apenas com leitura, mas com a convivência entre diferentes e com o reconhecimento do Outro.
Por tudo isso é que o incremento das instituições públicas de educação como espaços de ensino e aprendizagem de qualidade para todos (todas e todxs), de incentivo ao encontro e convivência entre os diferentes é, para além do óbvio compromisso ético e cidadão, também fator estratégico de desenvolvimento de um país. O Brasil já é grande, mas será definitivamente uma potência quando reconhecer e valorizar a diversidade do seu povo.