Crescem no Brasil os negócios de impacto social, empresas que surgem para solucionar problemas sociais, mas que possuem fins lucrativos – mesmo que, muitas vezes, apenas para se manterem atuantes. O modelo é impulsionado pela necessidade de soluções, é claro, mas também pelo interesse das novas gerações em trabalhar com propósito.
“O movimento está crescendo em várias vertentes, desde termos mais empreendedores de impacto social; aceleradoras destinadas só a esses negócios; fundos de investimento que só investem neles; organizações de apoio que estão trabalhando para fomentar esse ecossistema; várias universidades que estão dando disciplinas específicas de empreendedorismo social na academia; até os próprios jovens que estão cada vez mais conhecendo, se interando e querendo trabalhar nesse campo”, aponta o professor Edgard Barki, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
No ano passado, a startup Pipe Social publicou o 1º mapeamento Brasileiro de Negócios de Impacto Socioambiental, que considerou 579 empresas. Desse número, 63% estão localizados na região Sudeste do País, 43% no Estado de São Paulo.
“Nesse tipo de negócio, o lucro não é um objetivo por si, mas uma forma de não depender de doações, como acontece com organizações não-governamentais (ONGs). Ele é muito interessante para a empresa conseguir dar continuidade ao trabalho de uma forma que seja possível, ano após ano, continuar oferecendo o mesmo serviço para os beneficiários… Se ela não tiver essa sustentação financeira a chance de não conseguir atender a população ao longo do tempo é muito grande”, explica Barki.
Segundo a pesquisa “Negócios de Impacto Social e Ambiental”, publicada pelo Sebrae este mês, as duas áreas que mais atraem negócios de impacto social são educação (com 37,1% das empresas consultadas) e treinamento (acesso ao trabalho e renda, 25,8%). A Tamboro, a partir do trabalho de democratização do desenvolvimento das habilidades do século 21, atua nestes setores, sendo a única representante brasileira na área de educação no Unreasonable Goals – projeto que reúne iniciativas que têm soluções diretas para solucionar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).
As demais áreas dos negócios de impacto apresentadas pelo levantamento foram cultura (22,6%), economia criativa e artesanato (19.4%), cidades inteligentes (11,3%) e economia verde (8,1).
“A ideia do negócio de impacto social é pensar como utilizar o melhor dos dois lados. Ou seja, você ter um modelo que seja autossustentável, que gere retorno financeiro como no segundo setor, mas cujo objetivo central não seja a maximização dos lucros e sim o mesmo de uma ONG de envolvimento social”, diz o especialista.
Ideal para jovens que buscam propósito
Os jovens são parte importante da dinâmica dos negócios de impacto porque fazem parte de uma geração que procura satisfação no trabalho, para além apenas de um bom salário. Eles buscam propósito, e é isso que essas empresas podem lhes oferecer.
Segundo o professor, trabalhar com impacto social não exige, especificamente, um preparo técnico diferente para o profissional – já que o modelo de gestão e organização interna será muito parecido com o das empresas fora do setor social –, mas é preciso autorreflexão para entender se aquilo faz sentido diante de suas expectativas para a carreira e para a vida.
“Não é a toa que a ideia de ter disciplinas próprias para o tema está se proliferando em várias universidades. Você tem uma geração que, na média, não trabalha só para pegar o dinheiro no final do mês, que está buscando um propósito. E quando os jovens começam a interagir e conhecer os negócios de impacto, eles veem que é possível trabalhar, ganhar dinheiro e ainda ter um impacto social positivo. Então, para essa geração muitas vezes é como uma música aos ouvidos”, destaca.
Para quem procura uma vaga no setor, a dica de Barki é pesquisar empreendimentos a partir de aceleradoras, como a Artemisia e Quintessa, ou fundos de investimentos voltados para este tipo de empresa, como a Vox Capital e MOV Investimentos, para começar a entender a dinâmica do setor, além de acompanhar eventos, como workshops e feiras sobre a área que te interessa.
Retorno financeiro é importante para manter o trabalho
Segundo o levantamento do Sebrae, 64% dos empresários consultados abriram seus negócios com foco em inclusão de pessoas de menor renda. Mas o professor explica que é possível ainda considerar outros indicadores para o aspecto social, como soluções voltadas às pessoas com deficiência, idosos ou outros grupos vulneráveis.
Em comum, como consequência de sua atuação social, a maioria das empresas tem a dificuldade em conseguir gerar renda por meio de seus serviços. Barki acredita que para vencer esse problema os empreendedores precisam se mostrar criativos ao pensar como monetizar seus negócios. Alguns dos caminhos são pensar mecanismos de crédito que possibilitem ao público pagar pelos serviços ou, o que pode ser mais relevante, encontrar parceiros que possam apoiar – empresas, investidores ou até mesmo governos – e oferecer seus serviços aos consumidores finais.
Ainda segundo o mapeamento da Pipe Social, as formas de monetização mais recorrentes entre os negócios de impacto são as que envolvem comercialização direta. Das empresas analisadas 44% fazem venda direta única, 43% venda direta recorrente, 34% ganham através de assinaturas do serviço e 19% têm lucro com publicidade, entre outros modelos.