O estudo “Panorama do Treinamento no Brasil 2017-2018” – realizado pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD), Integração Escola de Negócios e Consultoria Carvalho & Mello – indica que, neste ano, o investimento em treinamento e desenvolvimento de colaboradores dentro das empresas brasileiras foi de R$ 788 por colaborador, valor 21% maior em relação ao ano passado. Recém-divulgado, o documento revela ainda que foram, em média, 21 horas por funcionário – valor ainda baixo em relação às 36 horas das empresas norte-americanas.
A pesquisa mostra também que, entre as 738 empresas participantes da pesquisa, o setor que mais treina seus colaboradores é a indústria (24 horas por pessoa). Além disso, as empresas multinacionais treinam 50% mais do que as nacionais.
O destaque do levantamento fica por conta do e-learning e ensino a distância (EAD), ferramentas utilizadas por 77% das empresas consultadas. “O e-learning tem sido um destaque com uma curva de crescimento em utilização, que vem sendo constante ano a ano, mantendo-se como tendência, possivelmente para auxiliar as empresas na busca por ampliar a escalabilidade da atuação do T&D, o aumento de produtividade e a redução de custos”, diz o estudo na conclusão final. Nesse segmento, o aprendizado via mobile cresceu 38%, mas ainda representa apenas 4% das ações de e-learning nas empresas que atuam no País.
Outra boa notícia revelada pela pesquisa é que, apesar da crise econômica e do aumento das demissões Brasil afora, as empresas continuam investindo no desenvolvimento de seus profissionais: “Vemos equipes reduzidas, mas com muita ênfase em seu progresso e na qualidade de seu trabalho”, diz o estudo.
O caminho para a mudança
Os dados do “Panorama do Treinamento no Brasil 2017-2018” mostram uma outra realidade dentro das empresas: elas estão investindo em programas de aprimoramento para seus funcionários não só como uma forma de se manterem competitivas, mas também para reduzir a enorme falta de mão de obra qualificada no país.
“As empresas estão investindo cada vez menos em grandes cursos, que colocam uma quantidade grande de pessoas na mesma sala. Elas estão trabalhando no desenvolvimento de seus colaboradores de forma mais direcionada. E esse é um caminho para preencher a lacuna de profissionais qualificados no país”, afirma a professora doutora especialista em Desenvolvimento Organizacional do Institute Business Education da Fundação Getúlio Vargas (IBE-FGV), Rita Ritz.
Falta de mão de obra qualificada
O Brasil ocupa atualmente o terceiro lugar no ranking de países que sofrem com a falta de profissionais qualificados para as vagas que estão abertas. Cerca de 60% das empresas com 10 ou mais colaboradores não conseguem encontrar trabalhadores com qualificação para suas vagas. Os dados da pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), do ano passado, mostram um cenário preocupante e que só tende a piorar, segundo Rita.
“A situação tende a ficar ainda mais aguda nos próximos anos, quando a questão da tecnologia impactará de maneira mais contundente nos modos de produção, tanto na área de manufatura quanto na de serviços”, comenta. “É uma equação de difícil solução num país onde a formação dos profissionais é cada vez mais deficitária”, completa a especialista.
Rita explica que o País não está preparado nem mesmo para as tecnologias que já estão em uso e exigem conhecimentos diferentes por parte dos trabalhadores – e não só no próprio setor de tecnologia, no qual a dificuldade de encontrar profissionais se apresenta tanto no nível técnico como no superior. “Atualmente, até para trabalhar na agricultura, por exemplo, é necessário saber ler informações fornecidas na hora pelos painéis dos equipamentos computadorizados usados no campo.”
O mesmo levantamento aponta ainda que apenas três em cada 10 profissionais declaram acreditar que sua capacitação é suficiente para exercer suas funções, enquanto 45% acreditam que não têm as competências necessárias para realizar seu trabalho.
Vontade X realidade
Se por um lado a situação tem várias causas – sistema educacional, a falta de conhecimentos básicos, novas tecnologias, cenário econômico… –, por outro, sabe-se que a saída é pela educação. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2014, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os brasileiros têm interesse em fazer cursos de qualificação profissional: mais de 40 milhões de pessoas manifestaram essa vontade, porém, apenas 3,4 milhões estavam, de fato, realizando algum curso.
“Hoje, temos uma enorme quantidade de cursos de curta e média duração, que podem ser feitos a distância, on-line, o que facilita muito o acesso. Mas até para isso é preciso que a pessoa tenha um mínimo de conhecimento, para encontrar esses cursos e poder realizá-los”, explica Rita. As empresas mais antenadas com as demandas do mercado já perceberam isso e saíram na frente, oferecendo treinamentos e programas de desenvolvimento on-line para seus colaboradores.
[…] o meio mais utilizado para adaptar os colaboradores às novas necessidades. Ida destaca que o e-learning e o ensino a distância (EaD) têm sido ferramentas essenciais nessa “reciclagem” da mão de obra, devido a praticidade […]