Empresas que diminuem as divisões hierárquicas, valorizam a comunicação direta entre os funcionários, independentemente de seus cargos, e prezam por decisões coletivas são uma tendência mundial – e são chamadas de horizontalizadas.
Enquanto no modelo organizacional mais antigo, o vertical, as relações de poder e divisões hierárquicas têm mais relevância, na chamada gestão horizontal as decisões tendem a ser coletivas e o trabalho exige maior autogestão por parte dos funcionários.
Joel Dutra, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), explica que o que ele chama de achatamento dos modelos organizacionais é uma tendência das organizações desde a década de 80 e não possui uma fórmula pronta a ser aplicada.
Em função do uso da tecnologia, a horizontalização acontece inclusive nas linhas de produção, na medida em que, com a automação de muitas das funções, é cada vez mais comum o uso de grupos semi-autônomos de colaboradores. “A gente começa a observar grupos com mais autonomia, nos quais a decisão está mais próxima da operação, isso gera horizontalização da organização em termos de estrutura e de processo decisório”, diz.
O que muda na prática?
A comunicação passa a fluir melhor nas empresas com gestão horizontais porque é mais direta, mais próxima. E, ao contrário do que pode parecer, a figura da liderança não desaparece, mas é ainda mais exigente.
Um gerente em uma linha de produção semi-autônoma – na qual grupos se autodirigem – pode chegar a ter 150 pessoas sob sua responsabilidade. Logo, não será possível se comunicar diretamente com todas elas, fazendo com que ele se relacione mais com alguns colaboradores – provavelmente os mais seniores ou aqueles que têm um papel de liderança dentro das equipes.
“Geralmente a comunicação flui melhor porque as decisões são muito mais de consenso, muito mais colegiadas, coletivas. O pessoal tem que interagir com muito mais frequência para que a coisa flua e funcione, então você vai diminuindo aquele peso da estrutura muito hierárquica”, pontua o professor.
Um dos desafios é contar com o compromisso de todos para trabalhar de forma conjunta, manter diálogo contínuo sobre o dia a dia. E isso só é possível com o investimento no desenvolvimento das equipes e com uma forte cultura organizacional.
Gestão x carreira
É importante lembrar que a horizontalização da gestão não significa horizontalização de carreiras. O professor alerta que acreditar que uma empresa com gestão horizontal deixa de ter cargos – e níveis de responsabilidade – diferentes é uma confusão comum. As estruturas hierárquicas são menos rígidas, mas as carreiras continuam possuindo degraus de complexidade.
“Você tem uma estrutura chapada, horizontal, mas quando você vai analisar o trabalho das pessoas, vai percebendo que determinados colaboradores têm um conjunto de atribuições e responsabilidades mais complexo do que outros”, explica Dutra.
É o fim dos níveis hierárquicos?
Então, será que é possível eliminar toda a hierarquia de uma empresa? Para o especialista, o modelo de negócios completamente plano e horizontalizado é viável apenas em alguns casos específicos de negócios (como startups, organizações de tecnologia e de serviços mais especializados), sendo mais difícil em casos de empresas muito grandes, que precisam de alguma estrutura hierárquica para facilitar o gerenciamento no negócio.