Você deve conhecer alguém que se vangloria por ser perfeccionista, se é que esse não é você mesmo… Mas, para além do desejo de fazer algo bem feito, o perfeccionismo pode muitas vezes ser uma compulsão que pode fazer mal para seu desempenho profissional e para sua carreira!
Ana Maria Rossi, doutora em psicologia e presidente da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), instituição de prevenção e combate ao estresse, explica que o perfeccionismo geralmente é observado em pessoas com pouca tolerância a críticas, que se cobram demais e têm pouca flexibilidade para mudar de rumo quando necessário. “Obviamente é uma utopia pensar que a pessoa pode fazer tudo e tudo 100% bem feito”, diz.
Evite gafes nas entrevistas de emprego
Frente à típica pergunta de processos seletivos “Qual é o seu maior defeito?”, uma tática comum entre candidatos é usar o perfeccionismo como uma resposta padrão. A lógica é que esse seria um “defeito bom”, já que, para muitas pessoas, o profissional perfeccionista busca entregar sempre o melhor resultado possível. Ledo engano…
“O perfeccionismo desqualifica, justamente porque a pessoa não tem medida, ela foge da realidade ao achar que possível fazer tudo totalmente bem o tempo todo. E isso não é possível”, alerta Ana Maria. Para ela, não há aspecto positivo a ser destacado, ao contrário, o que há nesses casos é um desgaste emocional e físico muito grande, porque implica em sempre estar correndo atrás de resultados impossíveis. Fique atento!
Encontre sua motivação
Segundo Ana Maria, esse comportamento possivelmente esconde algumas características que as pessoas não aprovam em si mesmas, o que acaba fazendo com que tentem se provar melhores o tempo inteiro. Para mudar, ela explica, é necessário buscar motivação em outras áreas.
“Para superar um comportamento perfeccionista é importante que a pessoa se sinta recompensada. Por exemplo: tem um relatório que envolve vários cálculos matemáticos, mas a pessoa não é boa nisso, então, ela pode pedir ajuda e se envolver em outro projeto que lhe dê mais gratificação. Porque sem motivação ninguém vai a lugar nenhum”, conclui.
Entenda agora os prejuízos que o perfeccionismo pode causar na sua carreira e o que fazer para reverter esse comportamento e dar uma guinada na sua vida profissional. Para evitar que você caia nessa armadilha, listamos algumas provas de como ser perfeccionista demais arruína a carreira de qualquer um.
Um profissional regido pelo perfeccionismo está minando sua carreira porque…
…se prende a detalhes ínfimos
Prejuízo 1: maior lentidão no trabalho
O profissional moderno se caracteriza por ser multifuncional e ágil para acompanhar as mudanças tecnológicas e de processos. E a busca pela perfeição pode fazê-lo perder muito tempo, se dedicando a minúcias sem importância e perdendo a capacidade de ver os projetos de uma maneira mais ampla.
“A busca pela perfeição deixa o profissional mais lento, com grau acentuado de estresse e se atendo a detalhes desnecessários. Em alguns casos, ela pode, perfeitamente, se caracterizar como uma busca obsessiva”, explica Isaac Efraim, médico psiquiatra especialista em ansiedade.
…fica ansioso e angustiado para dar conta de tudo
Prejuízo 2: mais estresse e problemas de saúde
A ânsia de corresponder às próprias pressões na busca pela perfeição também afeta diretamente a saúde. “Os sintomas mais comuns são as dores musculares, no pescoço, costas, de cabeça… Eles terminam afetando a qualidade do sono, porque as pessoas acabam não tendo um sono muito reparador”, alerta a psicóloga Ana Maria.
Além disso, há ainda os sintomas emocionais: a ansiedade, que causa imenso desgaste, e a angústia, de quando o indivíduo se dá conta de que não vai atender às próprias expectativas.
…vê defeito em tudo o que os outros fazem
Prejuízo 3: não consegue trabalhar em equipe
Buscar fazer tudo de maneira totalmente perfeita o tempo todo pode prejudicar as relações e, com isso, o trabalho em grupo.
“As pessoas que são perfeccionistas, por serem mais rígidas, altamente ambiciosas e compulsivas, terminam gerando mais conflitos pessoais”, explica a Ana Maria. “Para elas, parece que outras pessoas estão de alguma forma dificultando o caminho para que elas atinjam seus objetivos”, comenta. Efraim completa que o problema, acima de tudo, tira a fluência do trabalho em equipe, atrapalha as interações e cria atritos no ambiente corporativo.
…não consegue delegar, não sabe escutar nem cobrar
Prejuízo 4: tem dificuldade em assumir posições de liderança
Nesse contexto de dificuldade de colaboração, esses profissionais também se tornam péssimos líderes. Eles são mais ansiosos, competitivos e estabelecem padrões altos de cobrança – para eles próprios e para os outros.
“Um bom líder é flexível, aberto a incorporar novas ideias e atitudes arrojadas”, aponta o psiquiatra. Ao contrário disso, a busca pela perfeição faz com que uma pessoa tenha seu próprio padrão pré-estabelecido e rígido, o que faz com que se decepcione com todos os outros indivíduos, já que eles nunca atingirão suas expectativas.
Solução: a busca pela excelência!
Agora que já entendeu que o perfeccionismo definitivamente não é o melhor jeito para se dar bem na carreira, deve estar se perguntando qual é o caminho, certo? A resposta passa longe de ser um profissional medíocre…
O segredo do sucesso é ser excelente. A especialista do ISMA-BR explica que, enquanto o perfeccionismo é uma compulsão, com a qual o profissional perde tempo e gasta energia em vão, a busca pela excelência exige planejamento – o estabelecimento de objetivos claros – e flexibilidade – para mudar seus caminhos assim que perceber que certo processo ou plano não está funcionando.
“A pessoa que busca a excelência tem uma visão, uma perspectiva do seu futuro. Ela vai procurar fazer muito bem aquela tarefa para a qual está capacitada, o que ela não faz tão bem ela vai delegar ou fazer da melhor maneira possível, mas não de forma perfeita”, diz Ana Maria.
Ela usa uma metáfora para exemplificar a diferença. É como se o perfeccionista enxergasse apenas uma árvore em seu caminho, enquanto quem tem excelência vê uma floresta inteira, com todas as possibilidades, e entende, com autoconhecimento, como explorar suas habilidades para cruzar e aproveitar melhor tais caminhos.