Com certeza, você deve ter ouvido por aí alguma história sobre grandes investimentos em bitcoin e outras criptomoedas, ou sobre o crescimento do blockchain*… Mas o boom da tecnologia por trás das moedas digitais ou criptomoedas não está mudando apenas as relações econômicas mundiais. Está revolucionando também os negócios e o mercado de trabalho. Estamos falando do começo de uma nova era tecnológica.
“A tecnologia está, e estará cada vez mais, em tudo: nas empresas, nas tarefas diárias e até no nosso corpo”, explica Don Tapscott, CEO da Tapscott Group e cofundador do Blockchain Research Institute. “Estamos vivendo apenas o começo de uma mudança profunda”, completa, o consultor canadense que esteve no Brasil no começo do mês para participar de palestras da Campus Party Brasil 2018.
Para Tapscott, o maior valor do blockchain é ser um marco para a segunda era da internet: a internet de valor, em que mudanças profundas, inclusive em como são construídas empresas e a sociedade em si, ocorrerão em um ritmo muito acelerado.
Muitas dessas transformações serão na própria economia – e, por consequência, no mercado de trabalho. “Empresas como as que conhecemos hoje serão irreconhecíveis daqui a 10 anos. Serão mais descentralizadas e funcionarão como uma grande rede”, afirmou Tapscott durante sua palestra.
Autor de mais de 15 livros, entre eles “Blockchain Revolution: como a tecnologia por trás do bitcoin está mudando o dinheiro, os negócios e o mundo” (2016, parceria com seu filho Alex Tapscott), ele defende que as companhias terão vários líderes, e não apenas uma figura central. Para ele, as pessoas funcionariam como plataformas, se conectando e formando redes de contato.
Novos profissionais para uma nova era
Se por um lado as empresas sofrerão grandes transformações, surgidas no mercado de trabalho com a evolução da internet e dos processos de automação e inteligência artificial, por outro os profissionais precisarão de uma nova formação para atuar nesse novo cenário. De acordo com especialistas, a participação no mercado de trabalho do futuro passará pela educação e novas forma de capacitação e desenvolvimento.
Para Dado Schneider, publicitário e professor, também em painel na Campus Party, o futuro do trabalho já é uma realidade, e exige que o profissional busque uma formação que se aprofunde em um tema, mas sem deixar de conhecer, pelo menos superficialmente, muitas outras áreas.
“Deixa-se de se pensar em carreira para começar a pensar em resolver problemas reais”, diz o professor Genésio Gomes, idealizador do projeto Células Empreendedoras. Segundo ele, há a necessidade de uma mudança de mentalidade diante do mercado de trabalho, a partir da qual os profissionais passam a buscar soluções práticas para as demandas de um setor – ou da própria sociedade –, muitas vezes empreendendo.
O professor da Universidade Federal de Pernambuco, Alex Sandro Gomes, acredita que a educação é o caminho fundamental para a permanência no mercado de trabalho em sua nova configuração. “Enquanto humanos, a educação é tão importante quanto a água, e a forma de se manter no futuro é o desenvolvimento contínuo de diversas competências”, aponta.
O maior conselho do consultor canadense Don Tapscott, tanto para empresas quanto profissionais que querem se manter relevantes no mercado de trabalho num futuro bem próximo é: é preciso mostrar curiosidade e estar aberto a todas essas novidades, como o bitcoin, blockchain.
*Para quem ainda não está muito familiarizado com o termo, blockchain é a tecnologia que está por trás do bitcoin, mas não se resume à famosa criptomoeda. Com essa inovação, é possível fazer transações seguras de todo tipo – dinheiro, música, votos, créditos de carbono… – sem a necessidade de instituições intermediárias, como bancos e governos. Isso graças a sua estrutura imune a fraudes, que registra para sempre todos os passos das transações em uma cadeia virtual de blocos de informação. Em resumo, a tecnologia funciona como um “livro contábil”, no qual as informações ficam armazenadas.