Internet, softwares avançados, inteligência artificial… Vivemos em um mundo de mudanças tecnológicas que estão transformando nosso dia a dia, e também o modo como produzimos. Essa nova era no mercado é chamada de Indústria 4.0., um cenário onde as tecnologias físicas e digitais se combinam.
Na indústria 4.0. as máquinas deixam de apenas auxiliar e se unem às pessoas. Nela, ocorrerá um aumento dos dispositivos inteligentes e interconectados, mudando toda a cadeia de produção e logística como ainda acontece em boa parte das empresas – que precisam se preparar para essa transição, que já está ocorrendo e interfere diretamente na mão de obra, ou seja nos funcionários.
Um dos setores que está de olho nessas mudanças é o de Recursos Humanos. O novo movimento é chamado de R.H. 4.0, aquele que utiliza as ferramentas proporcionadas pelas novas tecnologias – como a Inteligência Artificial e o Big Data, por exemplo, duas das grandes tendências para a área este ano –, mas também é responsável por selecionar e preparar a força de trabalho para o novo modo de produzir da Indústria 4.0.
“O RH deixou de ser apenas um apoiador de pessoas e hoje está mais voltado para a gestão estratégica de pessoas, que é ter um olhar mais apurado sobre quem são os colaboradores e como eles podem ser melhor utilizados e mais produtivos no ambiente de trabalho”, destaca a professora do Institute Business Education (IBE) conveniado à Fundação Getulio Vargas (FGV), e especialista em gestão estratégica de pessoas, Ida Fernandes.
O RH passa a ser estratégico
Ida explica que, com a necessidade de mudança no perfil do profissional no mercado de trabalho em geral – que passa a cobrar habilidades e competências diferentes – o setor de Recursos Humanos ganha um papel tático e fundamental dentro das empresas.
“O RH faz parte do plano estratégico do negócio. Então ele vai usar todas as ferramentas de interação, interatividade e conhecimento de perfil para fazer um trabalho de gestão com o qual consiga colocar as pessoas certas no lugar certo, de forma que elas possam contribuir cada vez mais”, diz.
Planejamentos diferentes para cada geração
Um dos grandes desafios dessa área é ajudar os funcionários mais experientes a se adaptarem, lidando também com as demandas da nova geração de profissionais, como um ambiente de trabalho inovador e com responsabilidade social. Tudo isso ao passo em que “uniformiza a capacidade dos profissionais de interagir com a nova visão tecnológica”. Ou seja, a ideia é fazer com que as gerações aprendam entre si, desenvolvendo uma consciência conjunta sobre o novo mercado.
Estar pronto para a Indústria 4.0 parece mesmo ser uma preocupação constante na carreira dos jovens profissionais. Segundo pesquisa recente da consultoria americana sobre os chamados millennials (“2018 Deloitte Millennial Survey”), pertencentes à geração Y, os jovens trabalhadores se sentem despreparados para a Indústria 4.0.
Mais do que isso, eles não confiam que conseguirão ter sucesso nesse cenário e contam com as empresas para desenvolver as habilidades necessárias para o novo mercado – o que inclui as soft skills.
Assim, o relatório aponta também que essa geração expressa admiração pelas empresas que conseguem se adequar melhor e investem em desenvolver seus colaboradores na Indústria 4.0.
Como as empresas estão se preparando
Por outro lado, o estudo “A Quarta Revolução Industrial está aqui – você está pronto?”, também de 2018 e de autoria da Deloitte, mostra que entre 1.600 executivos entrevistados em 19 países, só 14% estão confiantes que suas empresas estão preparadas para aproveitar totalmente as mudanças geradas pela Indústria 4.0.
Apenas 25% acreditam que a força de trabalho de suas organizações está preparada e com as habilidades necessárias para o futuro – porém, 84% dizem que estão fazendo o que podem para prepará-la.
O desenvolvimento de competências e treinamento interno são o meio mais utilizado para adaptar os colaboradores às novas necessidades. Ida destaca que o e-learning e o ensino a distância (EaD) têm sido ferramentas essenciais nessa “reciclagem” da mão de obra, devido a praticidade que oferecem.
Processos seletivos mais complexos
Quando seleciona novos profissionais, o RH 4.0. precisa também se ajustar e utilizar-se de diferentes estratégias para encontrar o candidato ideal.
É necessário que o recrutamento, diferente de como era realizado anos atrás, avalie mais que as habilidades técnicas de cada pessoa. Agora, as soft skills – como resiliência e capacidade de adaptação, fundamentais em qualquer profissão no novo mercado de trabalho –, Inteligência Emocional, entre outras competências do mundo moderno, são determinantes na escolha de um candidato.
A própria tecnologia vem ajudando nesse processo na medida em que possibilita a prática de mais etapas, como testes de perfil, comportamentais e psicológicos, mas de maneira mais eficiente. “É o paradoxo do RH 4.0: a tecnologia te permite aumentar as fases do processo seletivo, mas mesmo assim terminar mais rápido do que se fossem duas ou três etapas manuais. Melhor ainda: você terá um resultado altamente apurado, muito mais próximo da realidade e confiável”, explica a professora.